top of page
  • Foto do escritorMariana Risério

“It’s not your job to be likable. It’s your job to be yourself” - Chimamanda.

Revendo pesquisas e trabalhos, conheci (mais profundamente) Chimamanda Ngozi Adichie e, posso dizer, foi amor à primeira vista. Graças à querida Elaine, amiga de minha mãe, que tem a maioria dos livros dela, fui de “Sejamos todos feministas” para “Para educar crianças feministas” e agora me aventurando por Americanah. Elaine não só adora Chimamanda como tem alguns livros dela a mais para dar a umas pessoas que “precisam”!

Ultimamente, “feminismo” ganhou contornos de uma coisa a ser evitada. Com suas bases distorcidas, não raro uma mulher dizer que não precisa do feminismo para nada, ignorando que é em razão dele que ela pode fazer escolhas, hoje em dia, fundamentais, como trabalhar, votar e se divorciar em relacionamentos ruins, por exemplo. Feminismos têm sido ditos (deturpados) como uma bandeira de “malucas, ressentidas e problemáticas”... nada tendo a ver com a busca pela igualdade entre os gêneros (sua real motivação).

Neste mesmo entendimento, o termo “gênero” foi retirado de planos de ensino - ignorando-se que é através de ensino e debates sobre gênero e educação sexual que se evitam problemas de saúde (doenças sexualmente transmissíveis, gravidez precoce), bem como relações abusivas, e respeito a dignidades como um todo.

Pois foi nessa onda de intolerância - de todos os lados - que descobri Chimamanda. No seu texto ela transmite leveza e paciência (possivelmente um trabalho que ela leva a cabo tentando passar por cima da inquietação que temos quando falamos de algo que acreditamos muito) e fala sobre convívio, respeito, igualdade, de uma forma muito singela - não menos incisiva - e foi em “Para educar crianças feministas” que eu li:

“Ensinamos as meninas a serem agradáveis, boazinhas, fingidas. E não ensinamos a mesma coisa aos meninos. É perigoso. Muitos predadores sexuais se aproveitam disso. Muitas meninas ficam quietas quando são abusadas, porque querem ser boazinhas. (...) Então, em vez de ensinar Chizalum a ser agradável, ensine-a a ser honesta. E bondosa. E corajosa. Incentive-a a expor suas opiniões, a dizer o que realmente sente, a falar com sinceridade”.

Acredito que essa é uma realidade para muitas mulheres, se não para a maioria. Talvez até ocorra um momento de ruptura em nossas vidas quando a gente acorda para o “eu não preciso agradar”, e quanto desalento seria evitado se isso fosse trabalhado nas meninas desde cedo: o incetivo para ser quem se é. E pronto.

Agora em Americanah. Aquela leitura que dá vontade de deixar tudo de lado para continuar. Questões sociais, raciais e de gênero, mas a leitura é fluida, despretensiosa e gostosa, um deleite. Me faz pensar sobre linguagens e alcances... sobre desafios atuais de se passar conhecimentos, em tempos em que não se há vergonha em não valorizar ensino, educação e cultura.

Chimamanda Ngozi Adichie. Foto de Helena Wolfenson.

Mas também quando ela conta que a personagem principal, que escreve um blog anônimo chamado Raceteenth ou “Observações diversas sobre negros americanos (antigamente conhecidos como crioulos) feitas por uma negra não americana”, se surpreende com um senhor que chamou de “uma espécie de gerente administrativo”. Esperando que ele não fosse entender o propósito do blog (depois de um outro entrevistado lhe dizer que questões raciais já tinham sido superadas), ele lhe disse “você já escreveu sobre adoção?”. Enfim, como já vivemos blindados, esperando receber intolerâncias e descréditos, surpreende que ainda haja empatia e interesse gratuitos por aí.

Bom, devagarzinho é que vamos comunicando, conhecendo e desfazendo estereótipos e preconceitos. Chimamanda me deu fôlego e ensinamento, não estamos sós e linguagens resistem.

91 visualizações1 comentário

Posts recentes

Ver tudo

As Horas

bottom of page