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As Horas

  • Foto do escritor: Mariana Risério
    Mariana Risério
  • 27 de mai. de 2019
  • 3 min de leitura

Filmes são, para mim, uma grande paixão. Amo. Quando eu era adolescente ia na finada vídeo hobby sem ideias prévias, escolhendo pelas capas e pelos títulos (não gosto de ler as sinopses, quero surpresa), me munindo de uns cinco vídeos para o fim de semana. Também ia passar a tarde no cinema do Museu Geológico (lugar que tenho o maior carinho, que nem Carol!), sujeita aos filmes que estivessem passando; de preferência, ia sozinha: gosto de ver o filme fingindo que estou fazendo parte daquela realidade durante aquelas, mais ou menos, duas horas, de sessão.

Assim, de plano, penso em Dançando na Chuva, Cinema Paradiso, Dogville, Dreams. Isabel Coixet e os seus Minha Vida sem Mim e A Vida Secreta das Palavras, que vi antes de decidir que não assisto mais dramas rs. Nadine Labaki e seu ótimo E Agora, Aonde Vamos?; Almodóvar, Lars Von Trier, Tarantino. Esses são alguns grandes amores. Filmes do tipo que não saem nunca da nossa cabeça, sempre nos fazendo recriar interpretações (a cada nova experiência vivida, uma nova mensagem antiga).

Mas como estava lendo Mrs. Dalloway, fui rever As Horas.

Lars Von Trier, cujos filmes se caracterizam, substancialmente, pelos protagonismos femininos, disse, no making off de Dançando no Escuro, sobre o seu medo das mulheres, o que o faz construir personagens masculinos e depois nomeá-los com nomes femininos. Ele disse que isso tem a ver com a relação com a sua mãe. Só não digo que duvido pois Dançando no Escuro - de tirar o fôlego na exposição da natureza humana ou “desumana” (Von Trier tem aquele poder de mexer com coisas que a gente nem sempre quer acessar...) -, foi inspirado no conto infantil “Cachinhos Dourados”! rs.

O fato é que As Horas - outro preferido - me fez pensar na potencialidade de grandes personagens femininas, sua complexidade, seus significados. Não só na expressão da mulher no cinema, a carga das construções, mas também no entorno que mulheres podem levar - absorver, um espectro de experiências, sutilezas, viezes, visões de mundo singulares e densas.

O filme, uma homenagem à Virgínia Woolf, traz um time que fala por si só, Meryl Streep, Nicole Kidman, Juliane Moore. Atrizes que levam o diferencial, o que eu entendo como “quando faz um papel, dissocia-se de outros papéis interpretados”, sem vícios. E eu acho que essa “espontaneidade” é justamente o que demarca o sublime.

As interpretações para As Horas, desnudam mulheres que carregam em si, no cotidiano, todas as demandas de uma existência. Mulheres que preenchem a vida de um filme: preenchem e transbordam. Um filme, a vida, as horas. E há aquelas que são assim.

Inclusive, pode ser que o diferencial mesmo da mulher seja uma espécie de “poder de síntese”, um dom e capacidade de carregar um todo, abarcar o tudo que se quer. Neste sentido, a visão feminina é não só diferente, mas é grande e densa, diferentemente densa.

Dessa forma, Mrs. Dollaway. Sempre fiquei ingenuamente impressionada com o poder de sentimentos transcenderem territórios e tempos, e com quem consegue transpô-los em palavras. Somos pequenos(as), num vasto mundo de previsibilidade e angústias compartilhadas; Somos grandes, gênias e gênios que perpetuam relatos dissimulando os tempos.

A primeira vez que tive essa sensação foi quando li Dostoievski: é muito significativo a gente poder se comunicar emocionalmente com autores de tão longe, de tanto tempo! Mas além da precisão em dizer sobre impressões, sensações, obscuridades da alma, Clarissa Dalloway é uma mulher e carrega com isso uma flexão, um “q”, que é tão discernível quanto inexplicável.



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“O que importa o cérebro – disse Lady Rosseter levantando-se – comparado ao coração?

– Estou indo – disse Peter, mas continuou sentado por um instante. O que é este terror? O que é este êxtase? pensou consigo mesmo. O que é isso que me enche de uma emoção extraordinária?

É Clarissa, disse ele.

Pois ali estava ela”.

2 comentarios


Mariana Risério
28 may 2019

Que bom que gostou, Elaine! :)

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Elâine Nogueira da Silva
Elâine Nogueira da Silva
28 may 2019

Delicia de post .... deu vontade de largar tudo e ir para o cinema Mari

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