Sobre caminhos para a delicadeza
- Rebeca Gorender
- 9 de jun. de 2019
- 2 min de leitura
Sempre fui capturada por uma boa história. Muito provavelmente daí surgiu a minha vontade de fazer cinema. Daí e de toda uma vida conectada ao armário metálico de meu avô, que era cheio de vhs’s, com todos os filmes do mundo (era o que eu pensava aos 11 anos). Queria trabalhar imagens, para ativar narrativas dentro de outros universos individuais e ter a potência de que pessoas fossem capturadas pelo meu olhar assim como eu me via sendo, pelo olhar de tantos, tantas. Cada caixinha preta, uma jóia.Não vou mentir que durante muito tempo não soube bem como fazer isso. Como escutar minha voz interior e como deixar ela aflorar, respeitando meus tempos e entendendo a inspiração. Descobri um lado cruel da autocrítica que impossibilitava que essa transformação de toda a delicadeza que já me habitava, pudesse ser explorada e colocada para fora. Era preciso girar a chave e mudar o pensamento de que, o que saísse de mim, deveria ser genial e impecável. Assim na verdade se fazia impossível criar. Uma exigência que ata mãos e venda os olhos. Tanto para trabalhos meus, como para os “alheios” a mim. Venho percorrendo esse caminho de águas salgadas e profundas e aceitando que tenho bordas. Toda profundeza é também escuridão nebulosa e a minha missão tem sido a de dissipar e colocar luz para ver meus pássaros voarem e minhas memórias serem contadas por mim mesma. Arte é exposição. Muito dificilmente você vai encontrar um trabalho artístico que não esteja embebido de quem o criou.

Tenho tentado fazer isso com minhas imagens e venho transformando meu interior em fogueira flamejante. As vezes me pergunto quem é você que me responde? Quem é você que me surpreende com uma teoria ou uma imagem? De onde vem e de tantas que sou, como me reconhecer. Como o óleo diesel na água, com seu arco-íris de cores. A cada som, a cada novo pensamento que tenho, me torno mais uma e me transmuto. E não existe maior prazer do que se perceber fluida, esponjosa. Os tempos verbais se misturam e se tornam absurdos no processo. Um quebra-cabeça onde os encaixes mudam a cada milésimo de alguma coisa. O que tem me ajudado nesse processo de reconhecimento e criação são auto retratos que faço. Geralmente, não vou mentir, impulsionada por alguma tristeza, que depois com a fotografia, vem a se transformar em outras coisas como desejo e satisfação. E que delícia é a transformação do sentimento através nosso próprio olhar. Recomendo.
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