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  • Foto do escritorMariana Risério

Dor e Glória



Dor e Glória é lindíssimo. Me remeteu, de alguma forma, tanto a Cinema Paradiso (Giuseppe Tornatore) quanto a Valentin (Alejandro Agresti). É um retrato de família, antigo, rasurado pelo tempo, em tons pastéis, mas onde o brilho nos olhos prevalecem e enchem de curiosidade quem está olhando, querendo saber mais sobre aquelas pessoas. É mais uma obra prima de Almodóvar, em realidade e em beleza.

Assisti com a sensação de querer algo mais, coisa que acontece quando se está diante de algo maravilhoso. Saí com a sensação de que o filme é irretocável. Um retrato da vida. Singelo, forte, sensível e fiel.

O protagonismo masculino é amplamente percorrido e prestigiado, o que não é recorrente em Almodóvar, ainda mais que, aqui, os homens se sobressaem às personagens femininas - em A Pele que Habito, Robert está no mesmo patamar de Vicente, representado belissimamente por Elena Anaya e, em Fale com Ela, os personagens de Benigno e Marco estão no mesmo patamar de Alicia e Lydia.

Além da abordagem, do roteiro, Antonio Banderas assumiu Salvador em um contrato tácito: em marcas de expressão e olhares. Para além da fama e mérito do personagem, o filme traz a vida de um homem comum, Salvador é belo em suas dores, durezas e dificuldades, em suas relações...

Andei muito dentro de mim nos últimos dias e assistir a Dor e Glória me deu aquele sopro de prazer e beleza internas. Um(a) Mestre(a) nos mostra que nem tudo foi dito (ou que a mesma coisa pode ser dita de diversas formas) e ver uma obra de arte anima e resplandece.

Além da beleza estética, acredito que a capacidade de identificação pessoal (sentimental/experiências) nos faz nos relacionarmos mais ou menos com uma obra. Fato é que me identifiquei, em muito, com aquele homem velho e cansado.

Quando Salvador confessou ainda não ter superado a morte da mãe, me lembrei da fala de Obinze, personagem em Americanah (Chimamanda Adichie), “Nunca achei que ela fosse morrer, até que morreu. Isso faz sentido? Obinze descobrira que a tristeza não diminuía com o tempo; na verdade, era um estado volátil”.

Perdas espalham pedacinhos de nós, que vamos, aos poucos, unindo-os novamente, mas, da mesma forma que vidro, alguns pedacinhos ficam perdidos e não somos mais capazes de encontrar. Então, quando a vida não é capaz, a arte (se é possível dissociar) vem para confortar, para preencher os arranhões da existência. Dor e Glória coloca em perspectiva uma vida errante, porém vivida, intensa e consciente, daquelas que - dessa mesma forma, colocadas em perspectiva -, se sente que valeu a pena.

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