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  • Foto do escritorMariana Risério

“Nunca tinha pensado sobre isso”

Atualizado: 13 de jun. de 2019


Museu Serralves, Porto - Portugal

Fiz Mestrado acadêmico e me debrucei sobre temas do Direito e da Sociologia, mas um dos momentos mais marcantes desse percurso, foi musical. Relembrei dele, quando, na aula de Vanessa - minha orientadora no Mestrado e amiga, ela falava sobre as diversas linguagens que traduzem o pensamento e sobre prazeres tão intensos e de fontes inesperadas.

Em um seminário, na semana científica da Ucsal, Ricardo Castro, o Maestro da Neojibá, foi um dos convidados. Quando lhe fora passada a palavra, disse que a sua linguagem era a música, pediu para que todos ficassem de pé - depois de horas sentados - e então dividiu uns comandos sonoros entre homens e mulheres... e, quando pediu para todos fazerem juntos, com o acréscimo também da sua voz, cantamos um pedacinho do Bolero de Ravel. Foi lindo! Uma delícia e inesperado. E isso me fez pensar em algumas coisas...

O prazer que eu senti em ouvir uma música de forma inesperada dentre diversas palestras acadêmicas de direito. O prazer de se ouvir uma música. Bom, isso pode soar ridículo, óbvio demais, mas infelizmente não é. Geralmente vive-se sem se pensar nas entrelinhas do que fazemos, vidas obtusas e práticas demais, onde música corresponde a, olhe lá, um entretenimento. Mas não é só, existe o poder de te tirar desse lugar, desse momento.

Então lembrei de quando meu tio Antonio me mostrou o filme de Caetano, “O Cinema Falado”. No fim do filme, aparecem algumas gravações, Caetano cantando “Don’t think twice it’s all right”, de Bob Dylan (superando ele, inclusive), versão que eu certamente mostrei a todo mundo que conheço. Depois ele cantando “Terra” e eu e meu tio ouvindo em silêncio... meu tio: “dá vontade de chorar né?”, eu “uhum”.

Pois para mim é isso. O que significam esses momentos? Significam justamente o sentido das coisas.

Ainda na aula de Vanessa, ela disse sobre o prazer da reflexão “eu nunca pensei sobre isso”. Tem coisa melhor? Do que você estar ali e receber uma informação (o que também pode acontecer bem depois de receber a informação) tão nova que te abre uma fenda no tempo para você aproveitar. Rompendo os limites de nossa mediocridade. Inclusive, que coisa rara em tempos presentes, onde todos sabem “tudos” dentro de suas convicções.

Além do mais, essa surpresa nos transporta para uma infância, uma parte que deixamos guardada quando adultecemos e tudo se torna corriqueiro.

Mas sensibilidade não se explica, muito menos esses pequenos deleites.

Infelizmente a gente não pode consertar tudo, colocar do nosso jeito, viver a realidade que a gente defende. Tampouco a gente tem disposição para sair mostrando a torto e a direito nosso ponto de vista. Então são esses refúgios, esses lugares - Vanessa, meu tio, Caetano, Bob Dylan, aquelas conversas que a gente não quer nunca mais parar - que fazem valer.






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