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  • Foto do escritorMariana Risério

Minhas mães.

Tenho a sorte de ter tido duas mães (uma delas, infelizmente, me deixou há um ano - parece que dentro dele couberam trinta). A outra está aqui juntinho de mim.

Nunca vi minha vó como vó, como falam (mesmo ela com seus 96 anos, mas muito lúcida e disposta). Ela também era minha mãe. Nossa relação não era esporádica, não era só baseada em doces e mimos (apesar da gente partilhar uma paixão intensa por açúcar). A gente abrangia também música (ela me ensinando o mundo dela, mas também curtindo Beatles, por exemplo). Nunca vou esquecer de quando tocou a introdução de strawberry fields forever na televisão ligada e ela olhou para mim e disse “Beatles”. Vimos juntas o documentário sobre Raul. Tinha Catulo da Paixão Cearence. Também tinha pão com manteiga, café com leite, cuscuz com ovo, requeijão dentro do café, e bolinho de feijão, farinha e arroz. Mas tinha mesmo era muito amor, tem até hoje.

Teve um dia que eu estava na cozinha e ela chegou recitando um poema de Castro Alves pois tinha visto na tv alguma comemoração para ele. Na última noite antes dela começar a partir desse mundo, quando eu disse que ia dormir, ela disse “fique aqui para conversar mais um pouquinho”... eu não pude ficar. Ai, se eu pudesse. Mas a vida é assim...

Ser mãe deve ser uma loucura! Sempre pensei nisso... ser responsável por uma vida, que começa pequenininha e vai crescendo, e no começo tem que ficar de olho, bem de perto.

Minha mãe nunca me bateu, minha vó sim, uma vez. Ela estava pintando um azulejo para um banquinho e me disse para não mexer que estava secando... ela também tinha mais facilidade em me dizer não. Talvez os “sim” de minha mãe tivessem a ver com o fato de que teve que trabalhar fora quando eu era ainda pequena. Meu pai nos deixou bem cedo, cedo para todos nós.

Minha mãe eu fui aprendendo a ver (depois das tensões da juventude) como uma guerreira, daquelas que dão nó em pingo d’água e resolvem qualquer missão. A gente se diverte, me divirto com o jeito dela, suas alegrias e confusões, muito mais resolutiva do que eu - que vou aprendendo a ser. Tantas experiências e acontecimentos na vida moldaram uma nossa relação cúmplice.

De vez em quando eu pensava se teria algo, meu, para contar com amor e orgulho. Elas duas são uma parte da minha vida que eu me delicio em falar... para além dos desafios não só da vida, mas do cotidiano, das crises da convivência e da intimidade, das discussões de ajustes e desabafos... posso dizer que são a minha melhor metade.

Sorte a minha. Sorte a dela ter tido minha vó dividindo com ela sua maternidade. Sorte a nossa.


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