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  • Carolina Lira

Dia das mães chegando e...

Atualizado: 17 de mai. de 2019

Segundo domingo de maio chegando. A única data no ano que as pessoas lembram que as mães existem. Todos os outros dias do ano são regidos pelo ditado “quem pariu Mateus que balance”. O incômodo com esse ditado começou pra mim quando percebi que as mães são sempre excluídas ou culpabilizadas. Quantos ambientes são acolhedores para mães de uma forma geral? Poucos. Pouquíssimos.

Meu mau humorzinho já começa no grande balaio de deleites do senso comum, que inclui frases como: “toda mulher quer ser mãe”, “ser mãe é padecer no paraíso”, “instinto materno”, etc etc etc. Isso tudo vai me dando uma grande canseira, principalmente no que diz respeito a maternidade compulsória. Existem mulheres que não querem ter filhos e tá tudo bem. Aceita, Sociedade.

Hoje estou pensando nas mulheres que querem ter filhos ou nas que já tiveram. Como essas mulheres são acolhidas? Será mesmo que elas são acolhidas? Violência obstétrica, puerpério e tantas histórias que não nos contam, afinal, “ser mãe é padecer no paraíso”, lembram? Esse imagem romântica da maternidade foi quebrada em mim no dia em que fui visitar uma amiga muito querida com um bebê recém-nascido e quando eu estava indo embora ela pediu que eu voltasse mais vezes pra ficar com ela. Eu perguntei se ela não estava feliz e ela me disse estar cansada e entediada. Como assim? Ela deveria estar feliz todos os dias porque tinha se tornado e cresci ouvindo que esse era o sonho de toda mulher.

Tinha virado uma chave. Com as “novas mães” ao meu redor fui redescobrindo um universo inteiro desconhecido: a maternidade real. Descobri que existiam cesáreas desnecessárias, episiotomia, ‘pega’ correta pra amamentar e que puerpério tava mais próximo do inferno do que do paraíso. Como era se entender naquele novo mundo, naquele novo corpo? Isso tudo era só o começo. Os primeiros meses após o nascimentos de uma criança. E os primeiros anos?

Minha prima engravidou e tive o privilégio de estar com ela e a bebê no ventre já perto da data dela parir. Fizemos exercícios para fortalecer o assoalho pélvico dela e cantamos juntas a música “Plantadeiras” para a nenê que estava na barriga. Essa música é muito especial não só pelo momento de acompanhar de pertinho a chegada de uma nova geração da minha família mas também por ter sido no Roda de Mulheres com esse nome que veio a pergunta: “seu feminismo abrange sua mãe?”

Eu estava tão preocupada em acolher as mães de primeira viagem que estavam ao meu redor que nunca tinha parado pra pensar na acolhida que eu deveria ter com a minha própria mãe! Nesse dia na roda, todas as mulheres presentes falaram sobre as relações construídas com as mães e todas fizeram críticas. A gente nunca estava satisfeita com a nossa própria mãe. Logo eu, feminista interseccional, que olhava sempre para outras mulheres unindo gênero, raça, classe, não conseguia acolher a mulher que sempre esteve ali ao meu lado? Não conseguia ter um olhar de empatia com a minha própria mãe?

Hoje eu vejo minha mãe com outros olhos. Adoro falar de várias formas possíveis de maternar. Sei que ela é a melhor mãe que conseguiu ser e que sorte a minha! Olho para trás e penso em como deve ter sido difícil olhar para mim no colo com seus vinte e poucos anos. O milagre e o terror. O tanto de amor e tanto de medo. Os erros e os acertos. Os palpites e os temores. As alegrias e as renúncias. Me enche de orgulho e de emoção. As mães não são iguais. Mães não são perfeitas. São mulheres de carne e osso, suor e sangue, risos e lágrimas. Por traz de cada mãe existe uma mulher única com sua subjetividade. Eu quero ser uma mãe que erra e acerta pois defender a maternidade real é também denunciar as opressões sofridas pelas mulheres. Acolham suas mães e sigamos juntas!



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