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  • Carolina Lira

Café com canela e outras coisas especiais


É tão bom sair do cinema com a sensação de calorzinho no coração. Naquele dia eu teoricamente não teria a noite livre. Eu tinha uma porção de coisas pra fazer. Resolvi me dar uma folguinha. A gente escreve muito melhor quando está descansada. Além do mais era um combo irrecusável: cinema, café e colocar o papo em dia com uma amiga querida num dos meus cantinhos preferidos da cidade, que é o ‘Cinema do Museu’.

Lembrei de um conselho de uma amiga atriz: “você gosta tanto de cinema, quando estrear um filme veja logo na primeira semana pra garantir que ele fique mais um tempinho em cartaz...” Queria ter ido na estreia, não deu. Algumas amigas minhas foram. Eu dava um palmo de cabelo pra ter estado com elas naquele dia. Saíram todas bem felizes do cinema. Eu estava mal-humorada: ‘não quero spoiler, vou assistir na semana que vem!’.

Eu sabia que eu gostar desse filme logo que eu vi o cartaz. Não sei se sou muito óbvia ou se cheguei num nível de auto-conhecimento que já percebo logo o que é que tem cara de coisa que eu gosto. O padrão é aleatório. Tantos anos convivendo com gatos iriam me influenciar de alguma forma, não havia maneira de escapar. Eu sempre gostei de coisas coloridas desde pequena. Fui crescendo e continuo me encantando por cores. Tem vezes que até faço uma paleta de cores imaginária na minha cabeça pra pessoas/viagens/filmes. Tem gente que se dedica muito a isso, taí Wes Andersen que não me deixa mentir.

Quando eu era adolescente eu escolhia perfume pelas cores do frasco. Certeza absoluta que tinha alguém por trás daquilo que pensava exatamente no que queria traduzir com aqueles signos e simulacros. Assim como devia ter uma profissão específica para pensar em cores de esmalte e tintas de cabelo. Capitalismo pescando cognitivos e nos jogando num mar de ilusões. Armadilha braba e eu caio até hoje.

Lá vamos nós pelo cartaz do filme: a letra era quase cursiva, o tom de verde era meio envelhecido e tinha uma moça andando de bicicleta em uma ponte. Não preciso de mais tantas informações. Me conheço o suficiente. Já sei que vou gostar. Chegamos no cinema mais tarde do que o esperado. Não deu tempo de tomar o café conversando no banquinho. Entramos direto para o filme, ora rimos, ora ficamos com os olhos mareados.

Termina o filme. Lindo o filme. Não teve muita conversa, já estava tarde. Falamos pelo olhar porque ele sabe dizer muito. As conversas mais íntimas que já eu tive não envolveram palavras. Quanta cumplicidade cabe dentro dos seus olhos?

Café com canela.

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